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Governo deve elevar impostos sobre lucros para viabilizar ajustes fiscais09/04/2015
São Paulo – A dificuldade da equipe econômica de Dilma
Rousseff em reduzir os gastos públicos sinaliza que a tendência é de forçar um
aumento de arrecadação, o que prejudica mais os pequenos empresários, na
avaliação de especialistas entrevistados pelo DCI.
“O ministro da Fazenda, Joaquim Levy tem demonstrado que os
ajustes fiscais serão mais por aumento de tributos do que por corte de gasto.
No projeto de lei da terceirização, por exemplo, ele tentou inserir a
tributação sobre lucro das empresas, o que tem efeitos nas grandes, mas
principalmente nos pequenos. Já há tributação sobre a receita. Se aprovado
seria uma dupla tributação”, explica o professor e economista da FIA, Alan
Ghani.
Além disso, recentemente, o ministro do Planejamento, Nelson
Barbosa, já havia mencionado que técnicos do núcleo econômico do governo
consideram tributar lucros e dividendos, incluindo remessas para o exterior.
“A impressão é que o ministro Levy está desesperado. Ele
deve ter percebido que não consegue reduzir os gastos como em consumo ou de
salários de cargos comissionados e vê que a saída é elevar a receita com
impostos. Porém, não acredito que haverá criação, isto porque sempre vai
encontrar resistência no Congresso para entrarem em vigência”, entende Paulo
Brasil, especialista em finanças e orçamento público.
Argumentações
De fato, o ministro da Fazenda declarou no final de março,
durante audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado,
que sua equipe econômica está acompanhando o desempenho da arrecadação federal
neste ano, com objetivo de atingir as metas fiscais – a meta para o superávit
primário deste ano é de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), o que há dúvidas
se vai ser atingida. Nisso, ele afirmou que o governo federal está “pronto”
para tomar novas medidas, caso seja necessário.
Por mais de uma vez – tanto na audiência do Cae, quanto em
outras declarações e apresentações -, Levy tem defendido que o governo não
criou nenhum novo imposto, apenas reverteu algumas medidas anticíclicas (para
estimular a economia) que haviam sido adotadas anteriormente.
“Estamos diminuindo intensidade de algumas ações de renúncia
dentro do quadro anticíclico. Há a recomposição parcial da Cide [dos
combustíveis]. Estamos fazendo o que já existia, só que parcial, menos do que
era antes”, lembrou.
Para Paulo Brasil, a sinalização mais clara é essa de que
desonerações tributárias ou anistias ou serão retiradas ou reduzidas no curto
prazo. Por outro lado, ele comenta que também é mais nítido que o aumento de
alíquotas será uma medidas mais concreta. “Há taxas de impostos que podem ser
modificadas por meio de decretos, sem que passe por aprovação, como o Imposto
de Importação ou o IOF [Imposto sobre Operações Financeiras]”, acrescentou o
especialista.
No entanto, no CAE, questionado se poderia assegurar que não
serão criados novos tributos, o ministro afirmou que seria “inadequado” dizer
que jamais fará isso. “O governo tem de estar pronto para tomar ações que sejam
necessárias. Mas antes de inventar novo imposto, o governo tem de acertar os
que estão aí.”
Mais aumentos
Ainda de acordo os ministros tanto do Planejamento quanto da
Fazenda, os técnicos do núcleo econômico também avaliam elevar taxas de
impostos principalmente sobre heranças, o que poderia, na avaliação de
especialistas, encontrar menos resistência para aprovação no legislativo.
“Do ponto de vista político, a proposta poderia servir para
agradar os chamados esquerdistas populares. Do ponto de vista econômico, com o
aumento não teria impacto na atividade comercial, mas mesmo assim teria
dificuldades para passar [no Congresso]”, analisa Paulo Brasil.
Conforme dados provisórios do Conselho Nacional de Política
Fazendária (Confaz), a arrecadação do Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e
Doação de Quaisquer Bens ou Direitos (ITCD) pelos estados, que incide sobre as
heranças, subiu 184% de 2009 para 2014 (de R$ 1,694 bilhão para R$ 4,818
bilhões), enquanto com relação ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS) – principal arrecadação estadual – subiu 87% no período, para
R$ 429,083 bilhões, o que demonstra essa tendência de crescimento no
recolhimento do ITCD, apesar deste montante representar pouco na receita
tributária dos estados.